sexta-feira, 24 de julho de 2009

Um rio no asilo


Nasci nesta cidade que se divide pelas águas de um rio. As águas do Piracicaba, um belíssimo pai agregador que criou uma comunidade de indivíduos ao seu redor e uniu os povos. Quem saiu das células-tronco deste canalizador de almas sabe o quão importante é o seu espírito. Não tem quem passe por pontes, avenidas à beira, voe sobre ele e que não pense no poder e grandiosidade que imperam em seu nome.



O saudosismo que levo comigo é aquele pelo qual não vivi. De quando as águas do Piracicaba eram limpas, os resíduos humanos e industriais não eram injetados sobre ele e assim poderia exercer sua majestade, aglomerando peixes e criaturas na sua natureza selvagem.

No entanto, me sinto um filho ingrato que tranca o pai no asilo, ofende com palavrões sua inexata memória, grita aos berros para o seu entendimento surdo. A verdade é que todos estão surdos, cegos, sem olfato ou ainda sem a lembrança de quando nos livro de estudos sociais se estudava a água como insípida, inodora e transparente.

E eis que então, em discussões e promessas deste ano marcado, só ouvi falar sobre as pontes que o encobrirão, sobre as avenidas que o rodearão, sobre as vidas que melhorarão ao seu redor com saúde, educação, emprego, moradia... Mas dele, alguém se lembra? A obscuridade de suas águas negras e os defuntos que bóiam na sua superfície não ouço, não leio, não entendo!