terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A Ema

Nara Marino é companheira de pseudagem das antigas. Mana da alta fase pseuda de nossas vidas. E para continuar a saga, Nara aproveita o gancho e descreve a pseudagem a partir do animal Ema. Inspirada no “não voar” da ave, Nara fala sobre pseudos e pseudas, sem eira nem beira.

Nara, primeira colaboradora do Blog da Pseudagem...


A Ema
por Nara Marino

A ema é um símbolo muito bom para descrever a pseudagem, pelo fato de que, apesar de ter grandes asas, ela não voa. Algo mais ou menos como, apesar da aparência intelectualizada e apologia ao que é considerado intelectual, os pseudos, no geral (com exceção dos pseudos "sinceros" como Tony Azevedo, que de fato contribui com a cultura) não contribuem efetivamente para a cultura e intelectualidade, não propondo novas formas de se ver o mundo, travando novas brigas e tentando pensar novos conceitos. Talvez por isso mesmo, PSEUDO: falso, suposto.

Em geral, (atentando que há sempre exceções, sempre!) os pseudos são presos ainda às fórmulas já existente de se pensar “alternativamente”. Por isso tantas referências aos jovens lutadores da época da ditadura. A forma de pensar dos militantes de esquerda das décadas de 60 e 70 ainda não foi superada, e um claro exemplo é a constante referência que se fazem a eles nas universidades de hoje, principalmente nas discussões, greves e passeatas contra reitores e burocratas dirigentes das universidades. O pseudo de hoje não quer viver uma nova luta, não quer viver uma nova era, não quer trazer conteúdo novo, ele quer “reviver” o que já foi vivido pela juventude décadas atrás.

Quantas vezes não ouvimos eles falando “queria ser jovem em 1968”? Usam as mesmas roupas, ouvem as mesmas músicas e criam músicas embasadas naquelas, numa tentativa de viver essa fantasia, de fantasiar que temos um inimigo claro com quem lutar. Os militares eram visíveis, as práticas e torturas que eles cometiam, palpáveis. Já os inimigos de hoje não são tão fáceis de serem reconhecidos, fazendo as pessoas pensarem que, hoje, não há contra quem lutar, não há motivo de revolta. A revolta natural do jovem está, aparentemente, sem direcionamento.

Porém, ao contrário dessa fantasiosa imaginação, há muito com o que se revoltar. Há ainda muita pobreza no mundo. Muita corrupção. Muita alienação. Muita burocracia (inclusive nas universidades) e fórmulas prontas que castram qualquer imaginação um pouco mais ousada.

Ao invés de tentarmos viver nessa fantasia de 1968, travando lutas que não são nossas, deveríamos tentar abrir o olho para o que existe agora, direcionar nossa revolta e criatividade para o que existe agora. E deixarmos de sermos apenas emas, cujas grandes asas não conseguem alçar voo.

Obs.: apenas a título de esclarecimento, não faço um ataque direcionado e nem me excluo dessa. Muito menos acho que devemos parar de ouvir Chico Buarque! São apenas... reflexões pseudas!

6 comentários:

  1. Gostei Naritxa... mto pertinente a analogia com a ema!!rsrs

    Q saudade das nossas conversas pseudas na época da greve...hehehe

    bjus!

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  2. Muito bom o texto, Nara!

    Mas ela me parece restrito aos pseudo-engajados-militontos-esquerdistas-derrubadores de reitores.

    No texto do Chico Buarque eu senti uma tentativa de defesa por parte de alguns...

    Devo lembrá-los que nós, os críticos da pseudagem, somos os maiores pseudos dessa história, pois nem pseudar a gente pseuda.
    A gente não participa das cirandas, dos CA´s, das oficinas de teatro, etc... Nós estamos à margem da pseudagem... Nós somos pseudos-pseudos, sacaram?

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  3. Em tempo: Rubinho, o termo "pseudagem" foi criado por mim. Quero os devidos créditos (ou uma antarctica gelada... rsss).

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  4. Michel,
    esse texto se refere a um público mais restrito sim, pois é apenas uma parte da divagação pseuda. outros pontos de vista e discussão ainda virão. inclusive sobre nós como pseudos-mor, que já está sendo elaborado!

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  5. Sendo assim, a pseudagem é como que uma espécie de neo blank generation (que mêda). Ou invisible generation. Ema generation.

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